Iniciei minha formação acadêmica em um curso de marketing na cidade do Rio de Janeiro. Empolgado, era só alegria. Matriculado numa boa universidade e direcionado a uma turma composta por pessoas maduras e experientes, imediatamente percebi que estava diante de uma boa oportunidade para o meu aprendizado, novos conhecimentos, relacionamentos e possibilidades de negócios. Enfim, um processo bem motivador.
Fui informado que, logo na primeira aula, já receberia toda a grade de horários e planejamento das disciplinas. Para minha surpresa, era uma aula inaugural de matemática. Apesar de possuir modesta competência lógica e matemática para realização de projetos, confesso que essa matéria nunca me encantou como outras. Mas, tudo bem. Afinal, não me sobrava alternativa. Matemática I e, pelo que entendi, certamente teríamos a de número II e a III. Naquele momento, não podia imaginar que ali estava uma das maiores lições para reflexão e ensinamentos de minha vida, que iria me garantir sobrevivência e prosperidade profissional.
Havia um generalizado barulho no início daquele período. Então, pensei: o professor deve chegar atrasado. Sem problemas, pois estávamos apenas começando. Como um raio, adentra à sala de aula, o esperado professor. Seu nome: Enrico. Aparentemente sério e pouco empático para o momento, colocou seus pertences sobre a mesa, solicitou silêncio e disse assim: “quem hoje necessita sair mais cedo da aula?” Nunca observei tamanho silêncio. Pensei: “o que estava por trás daquela pergunta?” O professor continuou: “quem de vocês pertence à turma da lama?” Ninguém entendeu nada. Ele, apesar da aparente racionalidade, provocou tensão e um certo temor aos alunos. “Meu Deus, o que é isso”, pensei. Ele prosseguiu: “Pois é, no decorrer da semana teremos, como informa o calendário, mais duas aulas. Fui designado pela coordenação do curso para conferir a presença desta clã em sala, denominada: povo da lama”.
Povo da Lama? O que significa, certamente todos pensaram. Eu não falei nada e assim todos ficaram em silêncio. O professor novamente indagou: “vocês querem saber sobre esse povo, que é acomodado, adora uma área de conforto, que não torce, não vibra, não colabora, não incentiva, puxa para trás e, se depender dele, dificilmente se constrói resultados positivos e sucesso?” Prosseguiu. “O Povo da Lama é destruidor e provavelmente aqui existem membros pertencentes a este grupo”, continuou o professor. Todos estavam perplexos e sem entender nada. Já havia sinais de incômodo e revolta com aquela história. “Afinal, diga logo”, incentivou um aluno mais destemido! Assim falou o professor: “o povo da lama é contagioso e se encontra presente em quase todos os lugares. Sabem quantos de vocês ao final do curso estarão recebendo colação de grau e seus respectivos diplomas? Provavelmente não mais que quarenta por cento”. Rapidamente fizemos as contas, pois éramos, naquela noite, cinquenta alunos e pelo que estava garantindo, apenas vinte se formariam. O que é isto? Um absurdo o que estava anunciando, fazendo pré-julgamento, pois ele não conhecia ainda as pessoas. Antes estivesse errado, meus caros leitores… Aliás, ele errou mesmo, pois, em nossa formatura, somente quatorze alunos dos que iniciaram o curso se encontravam presentes. Os demais desistiram no caminho.
Conclusão: lamentavelmente é verdade, o povo da lama existe e, pior, está no meio de nós.
Você deve estar perguntando, afinal, quem faz parte dessa espécie no mundo? Inevitavelmente, todos nós da raça humana, em um dado momento, fazemos ou já fizemos parte ativa deste grupo, devido a comportamentos característicos que protelam ou impedem a realização de nossos sonhos. Lembro que, quando criança, meus pais necessitavam sair e quantas vezes tinham que fazê-lo escondido, pois mesmo com a presença de uma outra pessoa, que também me oferecia carinho, atenção, eu não queria saber, fazia aquela choradeira, impedindo que eles realizassem o que pretendiam, ou mesmo obrigava-os a me levar em companhia.
Existe um grande segredo para diagnosticarmos os agentes da lama. Observe com atenção quem em seu convívio social, profissional ou familiar, geralmente vai contra suas idéias, sugestões e visão empreendedora. Após o diagnóstico realizado, acione um mecanismo que não lhe permita se abater com facilidade e ser influenciado: prossiga. Quando perceber que alguém, pelo seu negativismo, ceticismo, baixa alta-estima, entre outros fatores, quer interferir em seu poder criativo, inovador, encoraje-se e transponha todos os obstáculos criados mentalmente por ele, mesmo que esse alguém faça isso sem maldade, querendo apenas sua presença, chamar-lhe a atenção ou protegê-lo.
Tenha um propósito e estabeleça um objetivo diferenciado para sua vida. Mantenha-se ativo e motivado. Aliás, a motivação é algo pessoal que depende exclusivamente de você. Planeje antecipadamente seu dia, sua semana, mês e ano. Determine para si uma história de conquistas, com ensaios mentais positivos, estimulados pela sua autoimagem e mecanismo servil, que lhe garanta uma trajetória de realizações, pois assim não haverá qualquer elemento, supostamente da lama, que impedirá suas vitórias.
Prepare-se para esquivar-se ao máximo do povo da lama, mas reflita se necessita ou deve abandoná-lo plenamente, pois, afinal, você pode representar mudanças para ele e até mesmo o seu porto seguro. Se possível, bem alicerçado, procure resgatá-lo, mas não deixe que leve você para lá. Cuidado!
Sucesso!